quarta-feira, 2 de junho de 2021

"Os Nazarenos": os Mamonas do Gospel brasileiro?

Se você foi uma criança, adolescente ou jovem evangélico nos anos 90 e comecinho dos anos 2000 você com certeza lembra dos Nazarenos. O cenário da música cristã brasileira sempre teve grandes influências na música Gospel e Pop dos EUA, mas em alguns raros e poucos casos temos influências nacionais. Esse foi o caso da banda de Rock Cristão Os Nazarenos, nascida em 1998 em Itaguaí/RJ.

Formada por Gustavo Legal (vocais e guitarra), Xandeco Dicáprio (baixos), John Snake (baterista) e Dudu Besourão (teclados), não precisamos de muito para facilmente associar a imagem deles com os Mamonas Assassinas, grande fenômeno musical brasileiro dos anos 90. Mas calma que esses obviamente não são os nomes reais deles! Segundo eles, a ideia de associá-los aos Mamonas partiu de Ronaldo Barros (pai de Aline Barros). Ronaldo apadrinhou a banda e os lançou pela gravadora AB Records. A identidade visual do álbum debute é escrachada e nitidamente feita com o propósito de fazermos esta associação. Nem vou mencionar a identidade sonora (existe esse termo?). Você PRE-CI-SA ouvir!

Mas a irreverência dos meninos não fica só em seus nomes rebatizados. Suas músicas misturam rock, ska, xote, samba e muita comédia entre locuções e historinhas bem familiares a cultura cristã/pentecostal do Brasil. É o crente rindo dele mesmo. Seu primeiro álbum recebeu o título de "Curtindo O Maior Barato". Vocês têm noção do que foi ter um título CRISTÃO no Brasil de 1999 com esse nome? Não vemos mais tamanha ousadia na música. Hoje parece que tudo gira em torno de worship ou pentecostal. Salvas poucas exceções.

Após saída da AB Records parece que a patroa deteve o nome da banda e os meninos mudaram e passaram a se chamar Os Nazaritos. Veio o segundo trabalho, "O Barato Continua" e com ele mais músicas icônicas. Em 2001 a banda chegou a se apresentar no Rock In Rio. Difícil não lembrar de "Amor", "Pedro, Tiago e João no Barquinho", "Jesus Love Me Tender" e a minha preferida (especialmente pelo título): "Eu Sou Uma Florzinha Cheirosa do Bosque de Jesus Cristo de Nazaré".

Em 2017 eles retornaram com o EP "O Emergente" trazendo inéditas e versões repaginadas de "Jesus Edmais" e "Beleléu". Naquele ano vivíamos uma situação crítica de polarização política onde a igreja teve uma parcela de culpa. A faixa que dá título ao EP fala um pouco sobre esse emergente e critica certos cristãos que gastam com bota de couro de cobra python, mas dizem ser em nome de Deus. Em um trecho da faixa eles dizem: "O emergente reclamando da corrupção, mas faz esquema injetando grana na eleição. O emergente esqueceu que veio da favela, agora come caviar e arrota mortadela." Como não amar?

Não consegui encontrar nenhuma conta atual da banda ou do Gustavo Legal além das já disponíveis. Se quiser ouvir qualquer um dos três álbuns tem disponível no canal oficial da banda no YouTube. Eu recomendo! Curtiu recordar? Já conhecia os meninos? Curtiu conhecer? Compartilha com os amigos! Comenta aí!